
Turismo
Atração de Investimento Direto Estrangeiro no Turismo
O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) desempenha um papel fundamental no desenvolvimento económico dos países, ao promover a transferência de capital, tecnologia e conhecimento, a criação de emprego e o aumento da competitividade e da inovação. Para os países recetores, especialmente aqueles em desenvolvimento ou em processo de reestruturação económica, o IDE pode ser um catalisador de transformação estrutural, contribuindo para a diversificação da economia e para o fortalecimento de setores-chave. No entanto, a sua eficácia depende de fatores como a estabilidade política, a qualidade das instituições e a existência de políticas públicas que favoreçam um ambiente de negócios atrativo e sustentável.
De acordo com os dados oficiais divulgados pelo Banco de Portugal e pela AICEP, nos últimos anos a evolução do IDE no país tem apresentado alguma volatilidade, atingindo níveis históricos em 2024, com um aumento de 19% face ao ano anterior, totalizando 13,2 mil milhões de euros, maioritariamente sob a forma de investimento realizado no capital de entidades portuguesas (11,1 mil milhões de euros). Tratou-se de uma recuperação significativa face a uma queda de 2,4% registada em 2023, sinalizando uma confiança renovada dos investidores internacionais na economia portuguesa. Se olharmos em retrospetiva, desde 2008 o stock de IDE mais do que duplicou e, no final de 2024, ascendia aos 200,3 mil milhões de euros.
Em termos regionais, a fecho de 2024, a Grande Lisboa era a região com mais elevada concentração de IDE: 106,2 mil milhões de euros, ou seja, 53,0% do stock. Seguiam-se o Norte (17,3%) e o Algarve (9,7%). Esta distribuição evidencia a centralização do IDE na capital (impulsionada pela presença de sedes empresariais e serviços financeiros) e no Norte (zona líder no setor industrial). Quanto ao crescimento do stock de IDE no Algarve, o mesmo decorre do aumento do investimento em setores como o turismo residencial, altamente dependente de mercados externos, e as energias renováveis, beneficiando das condições naturais e dos incentivos à transição energética.
Relativamente à origem dos capitais estrangeiros aplicados em Portugal em 2024, 83% foram assegurados por países europeus (10,9 mil milhões de euros), com destaque para a Espanha (3,8 mil milhões de euros), o Luxemburgo (3,1 mil milhões de euros) e os Países Baixos (1,4 mil milhões de euros). Contudo, importa referir que os países europeus referidos assumiram o papel de intermediários em diversas transações de investimento, tendo funcionado como países-veículo por investidores chineses, norte americanos e franceses. Em termos setoriais, a alocação do investimento tem sido canalizada para o imobiliário (17,5%), construção (10,0%), serviços (18,0%), indústrias transformadoras (10,5%), eletricidade, gás e água (4,5%) e outras atividades (39,5%).
O setor do Turismo em particular, um dos principais motores da economia nacional, cujas receitas representaram 9,7% do PIB em 2024, exerce um papel cada vez mais determinante na atração de IDE, alavancado pela promoção de investimentos em infraestruturas e serviços diferenciadores. Pela sua natureza transversal, que abrange uma ampla gama de atividades — desde o alojamento, restauração, agências de viagens e operadores turísticos, até aos transportes, atividades culturais, recreativas e desportivas, bem como o setor imobiliário e da construção — o Turismo está frequentemente integrado em diversos projetos que captam IDE. De acordo com o 3.º relatório sobre as tendências internacionais de investimento no setor turístico, entre 2018 e 2022, Portugal foi o 9.º país a nível mundial e o 5.º entre os países europeus que mais IDE recebeu no setor do turismo, havendo registo de 58 projetos.
Em 2020, o setor do Turismo entrou com uma performance na captação de IDE expressiva, decorrente das projeções anunciadas em 2019 antes do período Covid19. No entanto, as restrições impostas pela pandemia acabaram por levar os investidores a adiar decisões de investimento, retomando-as novamente a partir de 2023. Desde então, o apetite pelo investimento em Portugal – sobretudo na hotelaria – tem demonstrado consistência, sem registo de adiamentos ou cancelamentos nos projetos, embora existam constrangimentos e atrasos nas fases de licenciamento e construção.
Em meados de 2024, dos 55 projetos de potencial interesse nacional (PIN) em acompanhamento na Comissão Permanente de Apoio ao Investidor (CPAI) mais de 60% tinham capital estrangeiro. O Turismo tinha um peso de 13 projetos no total dos 55, com 6 a incorporar IDE. Pela sua dimensão, impacto económico e ligação a marcas internacionais, assinalam-se: o W Algarve (Albufeira, grupo Marriott International), o Ikos Cortesia (Albufeira, grupo Ikos Resorts, Grécia), o JNcQUOI Comporta (Grândola, grupo Amorim Luxury, com investidores internacionais), o Surf City Lisbon (Seixal, projeto com investidores internacionais ligados ao surf e turismo desportivo), Quinta da Ombria (Loulé, grupo Pontos Group) e Na Praia (Grândola, indícios de investimento internacional, embora menos detalhado publicamente).
De acordo com a CRBE, está previsto que o investimento hoteleiro em 2025 ultrapasse os 600 milhões de euros, com 71% do investimento a ser assegurado por agentes económicos internacionais, posicionando Portugal no topo das preferências dos investidores europeus. Na 44ª edição do Marketbeat Portugal, a Cushman & Wakefield aponta para a expansão do setor hoteleiro e de apartamentos com serviços para estadias mais prolongadas em Portugal por via de investidores internacionais, especialmente nos segmentos full service e luxury. É previsível que continuem a ocorrer transações na indústria hoteleira, nomeadamente vendas de portefólios e plataformas operativas, com promotores internacionais dispostos a pagar prémios por projetos alinhados com estratégias ESG e que incorporem edifícios sustentáveis.
Além da hotelaria, destacam-se outros exemplos de IDE no setor do Turismo, tais como o Lisbon Cruise Terminal inaugurado com investimento estrangeiro e que reforçou a capacidade de Lisboa como destino de cruzeiros internacionais, as companhias aéreas Ryanair e a easyJet que estabeleceram bases operacionais em aeroportos portugueses com investimentos em frota, pessoal e infraestruturas locais, as plataformas Airbnb e Booking.com e os operadores TUI Group e a Jet2holidays que, através dos seus serviços turísticos, têm reforçado a sua presença em Portugal com investimentos em tecnologia, marketing e parcerias locais e, por fim, os projetos de ecoturismo e turismo ativo, como trilhos interpretativos, observação de aves e experiências rurais, especialmente no Alentejo e Centro de Portugal, que têm sido financiados por empresas estrangeiras.
Em conclusão, o IDE no setor do turismo em Portugal revela-se um vetor estratégico de desenvolvimento económico, contribuindo para a diversificação da oferta, a valorização territorial e a integração em cadeias globais de valor. A crescente atratividade do país, aliada à estabilidade institucional e ao foco em sustentabilidade têm consolidado Portugal como destino preferencial para investidores internacionais. A manutenção deste dinamismo dependerá da capacidade de agilizar processos, reforçar a competitividade e garantir um ambiente regulatório favorável à inovação e à cooperação internacional.
Fontes:
Investimento Direto Estrangeiro - Banco de Portugal - GEE; Investimento Estrangeiro - Turismo de Portugal; Investimento estrangeiro em Portugal sobe 19%; Investimento estrangeiro em Portugal sobe 19% para valor recorde de 13,2 mil milhões de euros – ECO; Investimento direto do exterior em Portugal (IDE) por agregado geográfico | stocks em milhões de euros | BPstat; Investimento direto: nota de informação estatística de dezembro de 2024 | BPstat; TravelBI by Turismo de Portugal - Relatório sobre Investimento Turístico Internacional; TravelBI by Turismo de Portugal - Relatório sobre Investimento Internacional em Turismo | 2023; TravelBI by Turismo de Portugal - Portugal é o 3.º país europeu mais atrativo para o investimento hoteleiro e Lisboa a 4.ª cidade europeia; FT Locations Knowledge Hub | Report | The fDi Tourism Investment Report 2023; Portugal acompanha 55 projetos de potencial interesse nacional; Portugal acompanha 55 projetos de potencial interesse nacional. Maioria é de capital estrangeiro – ECO; Investimento estrangeiro em Portugal volta a crescer em 2024. - Turismo de Portugal; Cushman & Wakefield: Investidos 2.380M€ no imobiliário comercial português em 2024; EY Attractiveness Survey: Portugal atrai investimento direto estrangeiro (ide) recorde | Portugal; Investimento hoteleiro cresce apesar da incerteza e soma 331 milhões até junho – ECO

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