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Dia Internacional do Turismo: a celebrar desde 1980
Dia Internacional do Turismo: a celebrar desde 1980
A 27 de setembro celebra-se o Dia Internacional do Turismo, uma data que marca não apenas a importância crescente desta atividade económica, mas também a sua capacidade de transformar territórios, culturas e sociedades. Instituído pela Organização Mundial do Turismo (OMT) em 1980, este dia foi escolhido por coincidir com o fim da temporada alta no hemisfério norte e o início no hemisfério sul. A sua génese ocorre em 1979, após apresentação de proposta de criação do dia comemorativo por Ignatius Amaduwa Atigbi (Nigéria) e respetiva aprovação na terceira Assembleia Geral da OMT, realizada em Espanha (Torremolinos). Esta celebração tem como objetivo sensibilizar para o impacto económico, cultural, político e ambiental do turismo a nível global e, anualmente, a OMT escolhe um tema para destacar diferentes dimensões do turismo, como o desenvolvimento sustentável, a inclusão social ou a inovação tecnológica. Em 2025, o tema proposto pela ONU Turismo para as comemorações é "Turismo e transformação sustentável". Em Portugal, esta celebração ganha especial relevância, dado o papel central que o turismo desempenha na economia nacional e na projeção internacional do país, constituindo uma oportunidade para refletir sobre o passado, presente e futuro do setor.
Em Portugal, os anos 80 foram marcados por uma fase de crescimento gradual do turismo. Em 1985, registavam-se cerca de 13 milhões de dormidas de estrangeiros, mas o país ainda enfrentava limitações significativas em infraestruturas e acessibilidade. A adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986 foi um ponto de viragem: permitiu o acesso a fundos estruturais que impulsionaram a modernização das redes rodoviárias, ferroviárias e aeroportuárias, tornando o país mais atrativo para o turismo internacional. Os programas PRODAC e PEDIP foram fundamentais para esta transformação, ao canalizarem fundos europeus para a construção de autoestradas (como a A1 e a A2), para a requalificação dos aeroportos da Portela, da Madeira e de Faro e das estações ferroviárias de Sta. Apolónia, de Campanhã, bem como para a modernização de vários troços da Linha do Norte. Estes investimentos criaram as bases para o crescimento turístico sustentado nas décadas seguintes. Na época, o alojamento turístico era dominado por hotéis tradicionais, pensões familiares e algumas estalagens, com pouca oferta de empreendimentos turísticos modernos ou diferenciados. O turismo rural e os resorts ainda eram incipientes, concentrando-se sobretudo no Algarve e em algumas zonas costeiras.
Durante os anos 90, o país intensificou o investimento em infraestruturas turísticas, impulsionado pelos fundos comunitários do II Quadro Comunitário de Apoio (1994-1999). Foram construídas novas unidades hoteleiras, especialmente no Algarve, Lisboa e Madeira, e requalificadas zonas urbanas com potencial turístico, como a Baixa Pombalina, o Cais do Sodré e a Ribeira do Porto. A criação de polos culturais e museológicos, como o Centro Cultural de Belém (1993), reforçou a atratividade das cidades. A preparação da Expo 98, iniciada ainda no início da década, mobilizou grandes investimentos públicos e privados, com impacto direto na reabilitação da zona oriental de Lisboa e na construção de infraestruturas como a Gare do Oriente e a Ponte Vasco da Gama. O turismo de sol e praia consolidou-se como principal produto turístico, com o Algarve a afirmar-se como destino de eleição para mercados como o britânico e o alemão. Paralelamente, começaram a surgir os primeiros sinais de diversificação da oferta, com o desenvolvimento do turismo de natureza e do turismo cultural. O financiamento europeu, através de programas como o FEDER e o Turismo XXI, foi essencial, sendo complementado por investimento direto estrangeiro (IDE), sobretudo em empreendimentos hoteleiros e resorts costeiros.
Nos anos 2000, o setor turístico português consolidou-se como um dos pilares da economia nacional, refletindo-se no aumento sustentado das receitas e na crescente notoriedade internacional. Em 2000, o turismo representava cerca de 4,5% do PIB, valor que subiu para 5,2% em 2012, com impacto direto na criação de emprego e no desenvolvimento regional. Portugal passou a figurar regularmente em rankings internacionais como destino de excelência, sendo distinguido pela sua gastronomia, património histórico, hospitalidade e segurança. Cidades como Lisboa e Porto começaram a atrair city-breaks, enquanto o Alentejo e o Douro ganhavam visibilidade como destinos emergentes. O investimento público e privado foi decisivo nesta fase, com destaque para o papel do Orçamento do Estado (OE) e de programas como o PRODEP e o PRIME, que apoiaram a qualificação da oferta turística, a formação profissional e a modernização de pequenas e médias empresas. A criação de marcas regionais, como “Algarve – Europe’s Most Famous Secret”, e a aposta em campanhas internacionais de promoção, como “Portugal, Europe’s West Coast”, reforçaram a imagem do país como destino competitivo e autêntico. Esta década marcou também o início da aposta no turismo sustentável e na valorização dos recursos endógenos.
A década de 2010 foi marcada por um verdadeiro boom turístico em Lisboa e no Porto, que se afirmaram como destinos urbanos de referência na Europa. Entre 2004 e 2014, Lisboa ultrapassou os 37 milhões de turistas e o Porto mais do que duplicou as dormidas, impulsionado pela reabilitação urbana, pela abertura de novos hotéis boutique e pelo crescimento do alojamento local. Eventos como o Euro 2004, o Rock in Rio, o NOS Alive, o Web Summit (a partir de 2016) e a crescente oferta de cruzeiros contribuíram para a projeção internacional das cidades. Paralelamente, o país assistiu à diversificação da oferta turística: o enoturismo ganhou força no Douro e no Alentejo, o turismo rural e de natureza expandiu-se em regiões como o Centro e o Norte e o turismo cultural foi reforçado com a valorização de património classificado pela UNESCO. O financiamento veio de múltiplas fontes: fundos europeus (como o QREN), investimento direto estrangeiro (IDE) em hotelaria e restauração e programas municipais de incentivo ao turismo, como o “Lisboa Enova” e o “Porto de Tradição”. Esta década consolidou Portugal como um destino autêntico, seguro e atrativo para diferentes perfis de viajantes.
Após um período áureo de consolidação, 2020 começou com um dos maiores choques de sempre para o setor turístico: a pandemia de COVID-19. Em 2020, as receitas turísticas caíram mais de 60%, com perdas estimadas em mais de 60 mil milhões de euros e até 600 mil postos de trabalho em risco em toda a cadeia de valor. Em Portugal, o encerramento de fronteiras, a suspensão de voos e o confinamento global paralisaram o setor. A resposta foi rápida e coordenada: o Turismo de Portugal lançou o selo “Clean & Safe” para reforçar a confiança dos viajantes, enquanto campanhas como “#TuPodes, Visita Portugal” incentivaram o turismo interno. A nível europeu, o programa NextGenerationEU canalizou apoios para a retoma, com destaque para o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que incluiu investimentos em sustentabilidade, digitalização e qualificação. A crise acelerou também a transição digital: plataformas de reservas, check-ins automatizados, experiências virtuais e ferramentas de inteligência artificial (IA) tornaram-se comuns. A IA passou a ser usada na personalização de serviços, previsão de fluxos turísticos e gestão de recursos. Esta década tem sido marcada pela resiliência do setor e pela sua capacidade de se reinventar, com foco na sustentabilidade, inovação e valorização do território.
Atualmente, em plena revolução tecnológica, cerca de 80% das empresas do setor turístico em Portugal já utilizam inteligência artificial (IA) em pelo menos uma área das suas operações, como a gestão de reservas, a personalização de serviços, a análise de dados de comportamento dos clientes ou a otimização logística. A digitalização tornou-se um eixo estratégico para a competitividade do setor, com destaque para iniciativas como o Turismo 4.0, promovido pelo Turismo de Portugal, que apoia a adoção de tecnologias emergentes por micro, pequenas e médias empresas. Por exemplo, o programa Hotel 4.0 (uma iniciativa integrada no âmbito do Turismo 4.0) tem incentivado a transformação digital da hotelaria, com soluções como check-in automático, assistentes virtuais, sistemas de gestão energética e plataformas de recomendação baseadas em IA. A realidade aumentada e os guias digitais interativos também começaram a ser integrados em museus, centros históricos e rotas culturais. A digitalização é igualmente uma prioridade nos programas de financiamento da União Europeia, como o PRR e o Portugal 2030, que apoiam projetos inovadores e sustentáveis. Estas ferramentas não só aumentam a eficiência operacional, como também melhoram a experiência do visitante e permitem uma gestão mais inteligente e sustentável dos destinos turísticos.
Em conclusão, desde 1980, o crescimento do turismo em Portugal foi sustentado por uma combinação estratégica de fontes de financiamento. Os Fundos Europeus, nomeadamente os estruturais e de coesão, foram determinantes nas décadas de 80 e 90, permitindo modernizar infraestruturas e qualificar a oferta. Nos anos 2000 e 2010, o IDE ganhou expressão, sobretudo em empreendimentos hoteleiros e turísticos, enquanto o OE continuou a apoiar programas de promoção e capacitação. Atualmente, o financiamento europeu mantém-se essencial, com destaque para o Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 e o NextGenerationEU, que impulsionam a transição digital e a sustentabilidade no setor.
A celebração do Dia Internacional do Turismo é, assim, uma oportunidade para refletir sobre o percurso de Portugal enquanto destino turístico. Desde os primeiros passos tímidos nos anos 80 até à atualidade marcada pela inovação tecnológica, o setor evoluiu de forma notável, tornando-se um motor económico e um embaixador da cultura portuguesa no mundo. Com os desafios da sustentabilidade, da digitalização e da diversificação, o futuro do turismo em Portugal dependerá da sua capacidade de continuar a reinventar-se, mantendo-se fiel à sua essência: acolher, encantar e inspirar.
Fontes:
Dia Mundial do Turismo 2025; Portugal na CEE. Turismo passou de escondido a imperdível - Renascença; A adesão de Portugal às Comunidades Europeias - RTP Ensina; Como os fundos europeus mudaram Portugal nos últimos 40 anos – ECOAdesão à CEE? "Teve um efeito geral de modernização" em Portugal; Base de Dados de Infraestruturas - GEE; gee.gov.pt/pt/documentos/estudos-e-seminarios/artigos/; gee.gov.pt/pt/documentos/estudos-e-seminarios/temas-economicos/; Turismo de Portugal - O investimento turístico em Portugal : uma estimativa para os anos de 1989 e 1990 / Centro Interdisciplinar de Estudos Económicos; Perspectivas optimistas para o turismo em 1990 – RTP Arquivos; Portugal: Investimentos Rodoviários e Ferroviários desde 1985 — Instituto +Liberdade; Balança de viagens e turismo, em % do PIB | PORDATA; INE - Conta Satélite do Turismo 2000-2002; Guia do financiamento da UE para o turismo; Guide on EU funding for tourism - Turismo de Portugal; mckinsey article - tourism recovery in portugal; O impacto da epidemia covid-19 no turismo em portugal e os mecanismos adotados durante e após este período para a sua recuperação | Tourism and Hospitality International Journal; TravelBI by Turismo de Portugal - 2 anos de Pandemia - O Impacto Económico no Setor Turístico; Conta Satélite Turismo; Dia Mundial do Turismo – Wikipédia, a enciclopédia livre; Aparecimento do Turismo em Portugal - Evolução histórica; Arquivo Histórico – Instituto da Mobilidade e dos Transportes; Plano Ferroviário Nacional – o que é, o que não é, o que tem e o que não tem - Transporte Ferroviário; Go4Travel tem nova imagem e renova site

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