
Agricultura e Agroindústria
“Água que Une” Nova Estratégia para Gestão de Recursos Hídricos
O estudo "Água que Une", recentemente divulgado, apresenta uma visão inovadora e abrangente para a gestão dos recursos hídricos em Portugal.
Resultado de um grupo de trabalho multidisciplinar, constituído por entidades como Águas de Portugal (AdP), Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) e Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), este documento sublinha a importância de uma abordagem integrada e sustentável para enfrentar os desafios futuros, incluindo as alterações climáticas e a escassez de água.
A estratégia do plano "Água que Une" foi elaborada com base em uma análise da situação hídrica do país, considerando tanto o cenário atual quanto as projeções de consumo e disponibilidade para o futuro. Atualmente, Portugal dispõe de cerca de 51 mil milhões de metros cúbicos (m³) de água por ano, sendo que aproximadamente 4.324 milhões de m³ são captados anualmente. Até 2040, prevê-se uma redução de 6% na disponibilidade de água, enquanto o consumo deverá aumentar em 26%.
A estratégia propõe uma gestão eficiente, resiliente e inteligente de toda a água disponível, seja ela superficial ou subterrânea, doce ou salgada. A visão central é que toda a água está interligada e deve ser administrada de forma sustentável, integrada e consensualizada.
Os principais objetivos da estratégia incluem:
Reforçar uma gestão eficiente e inovadora da água: Fomentando a inovação, a digitalização, a participação dos utilizadores e uma operação eficaz para uma gestão inteligente da água.
Fortalecer a coesão territorial: Assegurando uma gestão integrada da água, adaptada a cada região, para reforçar a coesão social, a sustentabilidade e a economia.
Diminuir a vulnerabilidade à escassez hídrica: Aumentando a resiliência em Portugal continental, reduzindo a vulnerabilidade à escassez de água e a fenómenos extremos como secas e cheias.
Reforçar a sustentabilidade ambiental: Promovendo o restauro e continuidade fluvial e garantindo os caudais ecológicos.
Desafios e Medidas Propostas
O estudo destaca a crescente frequência de secas em Portugal, agravada pelas alterações climáticas, que aumentam o risco e a vulnerabilidade hídrica, gerando impactos económicos, sociais e ambientais significativos. A estratégia, baseia-se em três eixos: eficiência, resiliência e inteligência e inclui cerca de 300 ações a serem implementadas nos próximos 15 anos. Estas medidas têm o potencial de aumentar a disponibilidade hídrica em mais de 1 000 milhões de m³ para atender às diversas necessidades de consumo no país.
Aumento da Eficiência Hídrica
Redução das perdas de água: Implementação de programas para reduzir as perdas nos sistemas de abastecimento público, agrícola, turístico e industrial.
Promoção da reutilização de água residual tratada: Incentivo ao uso de água residual tratada para fins não potáveis, alinhado com os princípios da economia circular.
Reabilitação e otimização das infraestruturas existentes: Melhorar a eficiência hídrica através da modernização e manutenção das infraestruturas atuais.
Reforço da Resiliência
Aumento da capacidade de armazenamento: Construção de novas barragens e alteamento das existentes para aumentar a capacidade de armazenamento de água.
Criação de novas infraestruturas: Desenvolvimento de unidades de dessalinização e interligações entre bacias hidrográficas para garantir a disponibilidade de água em regiões com maior stress hídrico.
Restauro e continuidade fluvial: Implementação de medidas para garantir os caudais ecológicos e promover a recuperação dos ecossistemas fluviais.
Promoção da Inovação e Digitalização
Assegurar uma gestão integrada da água: Adoção de uma abordagem coordenada e sustentável no uso, distribuição e conservação dos recursos hídricos.
Digitalização do ciclo da água: Implementação de tecnologias avançadas para monitorizar e gerir os recursos hídricos de forma mais eficiente e inteligente.
Capacitação e reforço da fiscalização: Aumentar a monitorização da quantidade e qualidade dos recursos hídricos e reforçar a fiscalização para garantir a sustentabilidade.
Programas Estruturantes
Os programas estruturantes estão divididos por três eixos principais, o da eficiência, da resiliência e finalmente o da digitalização:
Programas estruturantes por eixo

Figura 1. Programas estruturantes por eixo
Cada um dos eixos apresentados tem um conjunto de medidas práticas, um total de 294, para que seja possível desenvolver os seus programas. A título de exemplo destacam-se algumas das medidas apresentadas no estudo, como a modernização do aproveitamento hidroagrícola do Vale de Vilaça cujas ações serão a impermeabilização e limpeza da barragem e da rede de rega, assim como a construção de um reservatório de ar comprimido. Outra das medidas práticas que faz parte dos programas apresentados é o reforço do abastecimento de água aos municípios da região de Viseu, em que na prática será feito um projeto para a nova barragem de Fagilde. Como se vê pelos exemplos apresentados das medidas para o desenvolvimento dos programas estruturais apresentados não são subjetivas, mas sim muito concretas, práticas e para executar.
O estudo prevê um investimento global de cerca de 5 mil milhões de euros até 2030, com financiamento disponível de aproximadamente 2 mil milhões de euros provenientes de várias fontes, incluindo o Banco Europeu de Investimento (BEI) e o Grupo Águas de Portugal (AdP).
A estratégia "Água que Une" representa um passo significativo para garantir a competitividade, coesão territorial, económica e social, e a sustentabilidade ambiental em Portugal. Com uma abordagem integrada e inovadora, o estudo propõe soluções concretas para enfrentar os desafios hídricos do futuro, assegurando um uso responsável e eficiente dos recursos hídricos do país.

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