
Agricultura e Agroindústria
Desafio do rejuvenescimento e mão-de-obra na agricultura
O tema do envelhecimento do setor agrícola e necessidade de renovação geracional não é apenas uma questão nacional, ao nível europeu os números também são preocupantes. A agricultura mantém-se como uma base essencial da economia da União Europeia e da vida nas zonas rurais. A presença ativa dos jovens no setor é fundamental para assegurar a sua continuidade e inovação, impulsionar o crescimento económico e revitalizar as comunidades rurais.
Contexto europeu
Assim sendo, em 2025, a Comissão Europeia comprometeu-se a pensar e a reforçar a renovação geracional no setor agrícola através da definição de uma estratégia específica.
Esta estratégia irá abordar os desafios demográficos enfrentados pelo setor agrícola da UE, atraindo e apoiando jovens agricultores com espírito empreendedor. Para garantir um setor sustentável, competitivo, inovador e diversificado, a estratégia propõe-se a eliminar barreiras como o acesso limitado à terra, ao crédito e aos serviços nas zonas rurais, além de melhorar a perceção da sociedade sobre a agricultura.
Esta iniciativa lançada pela Comissão Europeia surge da constatação de que o setor agrícola europeu enfrenta um sério desafio demográfico: a idade média dos agricultores europeus é de 57 anos, apenas 12% têm menos de 40 anos e, destes, apenas 2,5% são mulheres. Este envelhecimento da mão-de-obra coloca em risco a sustentabilidade da agricultura, da segurança alimentar e das economias rurais levando ao abandono das zonas rurais o que traz sérios problemas ao nível da gestão do território.
Proporção de explorações agrícolas por idade do gestor

Figura 1 - Proporção de explorações agrícolas por idade do gestor
Apesar de a Política Agrícola Comum (PAC) já prever medidas de apoio aos jovens agricultores, como a obrigatoriedade de os Estados-Membros destinarem pelo menos 3% dos pagamentos diretos a este grupo, persistem obstáculos significativos. Entre eles estão o difícil acesso à terra, ao crédito, ao conhecimento, à inovação e aos serviços essenciais nas zonas rurais, como saúde, educação e infraestruturas digitais. Estes fatores tornam a agricultura menos atrativa para os jovens e contribuem para o despovoamento rural.
A estratégia proposta pela Comissão visa eliminar esses obstáculos através de uma abordagem integrada e coordenada a nível europeu, nacional e regional. Para isso, serão consideradas medidas em áreas como educação (Erasmus+), habitação, saúde mental, regimes de reforma, sucessão familiar, digitalização, mobilidade e turismo. O objetivo é tornar o setor agrícola mais dinâmico, resiliente e sustentável, promovendo a igualdade de oportunidades, especialmente para jovens e mulheres, e incentivando práticas agrícolas sustentáveis.
A estratégia está a ser desenvolvida com base em consultas a jovens agricultores, especialistas dos Estados-Membros e grupos de diálogo civil. Além disso, entre junho e julho esteve aberto questionário e o convite à apresentação de contributos através do portal “Dê a sua opinião”, disponível em todas as línguas da UE com o tema “Renovação Geracional da Agricultura”. Neste questionário era pedido que se refletisse e desse opinião relativamente aos seguintes pontos:
- Aspetos prioritários da estratégia como o acesso a terras, a crédito, ao conhecimento e aos serviços gerais
- Saber se a PAC e as políticas da UE atuais abordam estas questões de forma adequada
- Prioridades adicionais para a estratégia
Por fim, pretende-se que a execução desta estratégia seja também acompanhada no âmbito da nova PAC pós-2027, com monitorização regular e comunicação dos progressos ao Parlamento Europeu, ao Conselho e ao Comité das Regiões. Esta estratégia representa um esforço conjunto para garantir que a agricultura europeia continua a ser uma atividade viável e atrativa para as futuras gerações.
Contexto português
A nível nacional é também fundamental agir para atrair mais jovens para as zonas rurais e por sua vez para o setor agrícola, não só pelo facto da mão de obra ser envelhecida, mas também porque nos últimos anos o número de trabalhadores no setor estar a diminuir substancialmente. É fundamental tornar o setor mais atrativo para que os jovens portugueses vejam nele uma possibilidade de futuro profissional e uma atividade económica onde poderão encontrar tecnologia, inovação e crescimento.
Em 2024, em Portugal, o número de pessoas a trabalhar no setor agrícola foi de 217 mil pessoas, sendo 92 mil em regime de mão-de-obra familiar (não assalariada) e 125 mil pessoas assalariadas. Estes números têm por base a medida UTA (Unidade de Trabalho Ano, correspondendo a 240 dias de trabalho e 8 horas por dia).
Ao longo dos últimos 30 anos tem havido uma redução substancial da mão-de-obra nacional afeta ao setor agrícola, cerca de 58,5%. A maior quebra foi verificada ao nível da mão-de-obra familiar. Portugal tem sido dos países da União Europeia com a apresentar a maior queda de população ativa no setor agrícola, tendo diminuído nos últimos 9 anos aproximadamente 34%. Em 2022 a população ativa agrícola representava apenas 5,4% da população ativa total nacional.
A agricultura portuguesa enfrenta há décadas um problema estrutural, há uma grande dificuldade em atrair novas gerações, sendo estas essenciais para garantir a sustentabilidade, competitividade e inovação do setor. A idade média dos agricultores é de 65 anos, mais alta que a média europeia, e apenas 3,9% têm menos de 40. Apesar dos apoios do PDR2020, que beneficiaram mais de 4.400 Jovens Agricultores, a renovação geracional continua longe de ser uma realidade.
Este cenário deve-se a vários fatores:
- Um mercado globalizado que favorece o preço em detrimento da produção local
- Os impactos das alterações climáticas
- Uma imagem pública pouco valorizada do setor que ainda é visto como antiquado e pouco inovador
Estes fatores dificultam a atração de jovens qualificados — apenas 19% dos agricultores têm o ensino secundário ou superior.
A formação dos trabalhadores agrícolas e a sua capacidade de gestão é outro ponto relevante a ter em conta. Segundo dados de 2019, cerca de 95% das explorações agrícolas nacionais eram dirigidas por produtores singulares e apenas 5% por dirigentes/gestores. Mas por sua vez o salário pago aos trabalhadores agrícolas em Portugal tem vindo a aumentar, em 2023 foram pagos mais de 1.700 M€ em remuneração do trabalho agrícola. Este aumento do valor de salários pagos face ao abandono do setor agrícola demonstra uma maior profissionalização e reconhecimento do trabalho dos agricultores portugueses. E este deverá ser o caminho, profissionalizar o setor e atrair cada vez mais trabalhadores com formação e que sejam remunerados adequadamente.
Para tornar o setor mais atrativo para quem quer entrar no mercado de trabalho e para os jovens, será essencial:
- Criar um ambiente mais favorável ao empreendedorismo jovem, com políticas que simplifiquem a instalação e promovam a formação e a inovação tecnológica
- Apoios financeiros à instalação de jovens agricultores e modernização das explorações
- Maior abertura das instituições financeiras à concessão crédito a jovens agricultores
- Investimento na formação técnica e académica, para que haja cada vez mais mão-de-obra especializada
- Adaptar a gestão dos fundos às realidades regionais
- Investir em infraestruturas de água que permitam enfrentar melhor os períodos de seca, tornando o setor mais resiliente
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