
Agricultura e Agroindústria
OCDE publica relatório sobre a pegada de carbono em produtos agroalimentares
A OCDE publicou um relatório sobre o cálculo da pegada de carbono dos produtos agroalimentares. Segundo o relatório partilhado serão precisos oito elementos base para fazer uma medição fiável. O relatório indica que muitos destes aspetos já estão em desenvolvimento e podem ser aperfeiçoados e harmonizados através de uma colaboração mais estreita entre investigadores, agricultores, outros agentes da cadeia de valor, autoridades governamentais e a sociedade civil, tanto a nível nacional como internacional.
Importa antes de mais nada perceber o que é a pegada de carbono e como esta pode impactar as nossas decisões. A pegada de carbono mede as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) associadas à produção, transporte, processamento e distribuição de um produto, neste caso em particular de um alimento. Conhecer esse valor ajuda a identificar os alimentos que mais contribuem para as alterações climáticas.
Saber qual é a pegada de carbono de um alimento é essencial para compreender o seu impacto ambiental ao longo de toda a cadeia de valor — desde a produção até ao consumo. Esta métrica permite quantificar as emissões de gases com efeito de estufa associadas a cada etapa, incluindo a produção, o processamento, o transporte, a embalagem, o armazenamento e até o desperdício. Ao conhecer estes dados, os consumidores podem fazer escolhas mais conscientes, optando por alimentos com menor impacto ambiental, como vegetais, leguminosas ou produtos locais e sazonais, em detrimento de alimentos com pegadas mais elevadas, como produtos ultraprocessados e importados.
Para os produtores e Empresas, o cálculo da pegada de carbono da sua atividade é uma ferramenta estratégica que permite identificar pontos críticos na cadeia de valor, melhorar a eficiência dos processos, reduzir custos e alinhar-se com metas de sustentabilidade. Já para os governos, a pegada de carbono dos diversos setores de atividade económica, incluindo o agrícola, é um indicador valioso para orientar políticas públicas. No caso de Portugal, cumprir os compromissos assumidos no Acordo de Paris e alcançar os objetivos definidos pela União Europeia — como a redução de 55% das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 e a neutralidade carbónica até 2045 — exige que o país avance de forma estratégica na descarbonização da sua economia. Este esforço está enquadrado por instrumentos como o Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030) e o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050), que orientam a transição para um modelo económico mais sustentável e com menor impacto climático.
A crescente preocupação com as alterações climáticas e os compromissos climáticos que os países têm assumido tem também levado à adoção de sistemas de rotulagem que informam os consumidores sobre a pegada de carbono dos produtos alimentares, promovendo maior transparência e responsabilidade. Esta tendência está a ganhar força em vários países e pode transformar a forma como produzimos, distribuímos e consumimos alimentos, contribuindo para um sistema alimentar mais sustentável e resiliente.
Como foi referido anteriormente o cálculo da pegada de carbono é essencial para compreender o impacto ambiental de diferentes setores da economia. Ao identificar as fontes de emissões, torna-se possível definir estratégias eficazes para as reduzir, contribuindo para o combate às alterações climáticas e para o cumprimento de metas internacionais, como as estabelecidas no Acordo de Paris ou nos planos nacionais de transição energética. O problema que se levanta é a saber como é feito o cálculo da pegada e carbono, para que este seja efetivo é fundamental que o processo seja uniformizado. De acordo com a OCDE, para que o cálculo da pegada de carbono seja fiável e consistente, é essencial dispor de métodos cientificamente validados, ferramentas específicas para aplicação nas explorações agrícolas, normas claras de comunicação e bases de dados com informação secundária que sustentem os resultados.
No relatório da OCDE apresenta-se como sendo uma ferramenta que ajudará no cálculo da pegada de carbono de produtos agroalimentares. A informação ampla e fiável é fundamental para o cálculo da pegada de carbono e no relatório apresenta oito elementos-chave, que são:
- Normas e orientações para reportar a medição da pegada de carbono, de modo a criar uma compreensão comum sobre o que deve ser incluído nos cálculos
- Métodos científicos para medir ou estimar as emissões
- Ferramentas de cálculo a nível da exploração agrícola, que permitam aos agricultores utilizar dados primários sobre as suas atividades e práticas de gestão como base para calcular a sua pegada de carbono
- Bases de dados com informação secundária, a utilizar quando os dados primários ainda não estão disponíveis
- Mecanismos de comunicação dos dados de pegada de carbono ao longo da cadeia de valor, permitindo que os cálculos detalhados feitos por produtores numa fase da cadeia sejam utilizados como input na fase seguinte
- Sistemas para garantir a integridade e qualidade dos dados e dos cálculos
- Modelos escaláveis de cálculo da pegada de carbono com custos reduzidos, para permitir uma adoção generalizada por intervenientes com capacidade limitada, como agricultores, PME e produtores em países em desenvolvimento
- Mecanismos de atualização contínua, à medida que surgem novos conhecimentos científicos e técnicas
Se estes pilares estiverem implementados, os intervenientes na cadeia de abastecimento poderão receber informação sobre a pegada de carbono dos produtos dos seus fornecedores, adicionar as suas próprias emissões e transmitir o resultado à fase seguinte, até ao consumidor final.
Este modelo de cálculo da pegada de carbono “do prado ao prato”, construído passo a passo com base em dados primários, tem o potencial de ativar três alavancas para reduzir emissões nos sistemas alimentares:
- Substituição de produtos com pegada média elevada por alternativas com menor impacto (por exemplo, produtos de origem vegetal em vez de animal)
- Escolha de fornecedores com pegada mais baixa dentro da mesma categoria de produto (por exemplo, produtores de lacticínios com menores emissões)
- Incentivo à adoção de práticas e tecnologias de gestão agrícola que reduzam emissões
O relatório explica como cada um dos oito elementos apresentados é essencial para construir um sistema fiável e abrangente de medição da pegada de carbono nos sistemas alimentares. Para cada pilar, é apresentada a sua importância, seguida de uma avaliação inicial do estado atual e das lacunas ou inconsistências a resolver.
Muitos dos oitos elementos/pilares apresentados já existem e são usados. Alguns surgiram recentemente, como soluções digitais para comunicar dados de pegada de carbono ao longo das cadeias de abastecimento. Outros foram desenvolvidos com objetivos diferentes, como as orientações do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) para métodos científicos (originalmente dirigidas a governos para emissão de relatórios) ou ferramentas de cálculo a nível da exploração (inicialmente criadas para ajudar agricultores a avaliar as emissões totais da exploração, e não a pegada dos produtos). Muitos destes pilares foram desenvolvidos de forma independente, o que ainda exige ajustes para garantir que funcionem de forma integrada.
O desafio é ambicioso e não deve ser subestimado: alcançar medições fiáveis e generalizadas da pegada de carbono nos sistemas alimentares exige esforço coordenado. O relatório identifica várias oportunidades para melhorar os pilares existentes e promover maior alinhamento. Para isso, será necessária colaboração entre investigadores, agricultores, intervenientes da cadeia de abastecimento, governos e sociedade civil, tanto a nível nacional como internacional.
Trabalhar na medição e comunicação da pegada de carbono dos produtos agroalimentares pode também apoiar iniciativas semelhantes relacionadas com outros impactos ambientais.
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