Turismo MICE: muito mais do que reuniões

O segmento MICE — Meetings, Incentives, Conferences and Exhibitions — representa uma das vertentes mais estratégicas do Turismo contemporâneo. Este segmento do Turismo, centrado em eventos corporativos e associativos, tem vindo a afirmar-se como um motor económico relevante, com impacto direto na hotelaria, restauração, transportes e serviços especializados. Em Portugal, o MICE é também uma ferramenta eficaz no combate à sazonalidade, promovendo fluxos turísticos fora da época alta e contribuindo para a valorização territorial. De acordo com alguns especialistas do setor, mais de 20% dos participantes em eventos corporativos manifestam intenção de regressar ao destino como turistas. Esta fidelização pós-evento reforça o impacto económico e a diversificação da procura.

Alinhado com esta tendência, Portugal tem vindo a posicionar-se de forma cada vez mais consistente neste segmento e, consequentemente, tem assistido ao merecido reconhecimento. Cidades como Lisboa e Porto têm vindo a ser nomeadas e premiadas no âmbito de diversas edições dos World MICE Awards e têm-se destacado nos rankings da ICCA (International Congress and Convention Association), superando cidades como Paris, Berlim e Londres. A título de exemplo, em 2023, a capital portuguesa contabilizou 151 eventos associativos no ranking da ICCA, e posicionou-se como a segunda cidade europeia com mais eventos, atrás apenas de Paris. Na zona norte, a campanha “The Majestic Adventures of Ofelia de Souza”, promovida pelo Turismo do Porto e Norte, recebeu distinções internacionais e contribuiu para a notoriedade da região como destino MICE criativo e competitivo (em 2025, a região já captou mais de 100 eventos, com impacto direto em 32 mil participantes).

Em termos de contributo para a economia nacional, o segmento MICE representa uma fatia estratégica de elevado valor acrescentado, especialmente em territórios de baixa densidade. Segundo o relatório de execução do programa M&I Interior+ (um programa de apoio financeiro criado pelo Turismo de Portugal, com o objetivo de promover eventos associativos e corporativos de pequena e média dimensão em territórios de baixa densidade e nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores, alinhado com a Estratégia Turismo 2027), os cerca de 14 eventos apoiados geraram 2.089 dormidas em 10 concelhos.

Em termos de perfil, o turista MICE tende a ter maior poder de compra e a realizar despesas superiores ao turista de lazer. Estudos indicam que o gasto médio por participante MICE pode ultrapassar os €400 por dia, devido à cobertura de custos por Empresas e à procura de experiências diferenciadas. Há também uma crescente preferência por formatos híbridos, experiências personalizadas e alojamentos próximos dos locais de evento. De acordo com estimativas divulgadas recentemente pelo World Travel & Tourism Council (WTTC), a despesa média diária por turista MICE tem vindo a aumentar progressivamente:
 

Apesar da evolução verificada, Portugal enfrenta défices estruturais no segmento MICE, tais como a ausência de centros de congressos de grande escala e hotéis construídos de raiz para eventos. A logística por vezes complexa, a rigidez tarifária e a falta de flexibilidade nos “allotments” (prática comum em eventos MICE e que garante a disponibilidade de um número específico de quartos ou lugares por um determinado período), dificultam a captação de grandes eventos internacionais. Estas lacunas obrigam os organizadores a dispersar os participantes por vários hotéis, dificultando a logística de transporte, coordenação de horários e gestão de atividades paralelas. A falta de espaços integrados compromete a experiência dos participantes e a competitividade do país face a destinos como Espanha ou França. A colaboração entre os promotores dos eventos e hotelaria é essencial para superar estes desafios.

Em termos de apoios para o segmento turístico MICE, destacamos o programa Portugal Events 2025-2026, promovido pelo Turismo de Portugal, o qual disponibiliza 16 milhões de euros em apoios não reembolsáveis para eventos turísticos, associativos e corporativos. O objetivo é reforçar a notoriedade regional, combater a sazonalidade e promover a coesão territorial. Outros apoios com componente de Incentivo Não Reembolsável, de carácter mais abrangente e que valorizam a competitividade e/ou a internacionalização passam, por exemplo, pelos programas Crescer Com o Turismo e a 3.ª Call Turismo +Crescimento, com dotações de 30 milhões de euros e 20 milhões euros respetivamente para apoiar as Empresas do setor.

Podemos concluir que o Turismo MICE em Portugal está em plena expansão, com Lisboa a liderar internacionalmente e o país a consolidar-se como destino competitivo. Os desafios logísticos e de infraestruturas exigem investimento e colaboração entre stakeholders. Através de uma combinação de investimento privado, apoios públicos e estratégias bem delineadas, o segmento MICE tem potencial para ser um dos pilares da estratégia turística nacional até 2035. A crescente profissionalização dos operadores e a aposta em inovação tecnológica estão a elevar os padrões de organização e experiência dos eventos. Com uma visão integrada e territorialmente inclusiva, Portugal posiciona-se para captar eventos de maior escala e impacto global.