Turismo de Inverno: Tendências, Estratégias e Oportunidades

A chegada do inverno leva-nos a refletir acerca do papel do Turismo nesta época do ano. Portugal é cada vez mais um destino de eleição nos meses frios e tem vindo a demonstrar características que atenuam a tradicional sazonalidade estival, impactando de forma significativa na economia nacional. A título de exemplo, em dezembro de 2024, registaram-se máximos históricos de hóspedes e dormidas e 2025 começou com uma aceleração assinalável (+8,3% de hóspedes e +6,3% de dormidas face ao mesmo período do ano anterior). Adicionalmente, o perfil do turista tem mudado ao longo do tempo: existe uma crescente procura por experiências autênticas, personalizadas e ligadas à cultura local, com valorização do conforto, da gastronomia e do contacto com a natureza, destinos menos massificados e viagens em época baixa destacam-se. O “slow travel” ganha tração e o interesse por Turismo de bem-estar, religioso e rural cresce progressivamente. 
 

Face ao exposto, os players do setor podem adotar estratégias para maximizar as oportunidades que esta época oferece, nomeadamente:

• Adoção de estratégias integradas para combater a sazonalidade

A diversificação da oferta turística, a aposta em mercados alternativos e a criação de experiências adaptadas ao inverno são fundamentais. Recomendam-se ações como a segmentação de públicos, parcerias locais, promoções específicas e comunicação digital eficaz. Em 2024, Portugal registou a menor taxa de sazonalidade desde 2013, com apenas 36,6% das dormidas concentradas nos três meses de maior procura. Por exemplo, destinos como o Alentejo, Douro e Interior Centro têm beneficiado bastante deste tipo de abordagens. Municípios como Gondomar, Sines e Vila Nova de Gaia lideram, mesmo com oferta limitada, graças à valorização de património local e experiências diferenciadoras.

• Natal e Réveillon são alavancas poderosas para o setor no inverno

A época festiva atrai turistas nacionais e internacionais, com destaque para mercados como Reino Unido, EUA, Espanha e França. Festas públicas, ceias temáticas e eventos culturais tornam Portugal um destino vibrante nesta altura do ano. Durante este período, estratégias de pricing e margens na hotelaria festiva são ajustadas à procura e a gestão eficiente de recursos humanos e energia é essencial para manter a rentabilidade. A título de exemplo, a taxa de ocupação hoteleira no período natalício atingiu 56% em 2024, com preços médios de 135€, um aumento de 14% face ao ano anterior. A Madeira, Lisboa e Algarve lideram as reservas, refletindo uma mudança nos hábitos de celebração.

• Promoção de destinos de altitude

O Dia Internacional da Montanha, celebrado a 11 de dezembro, reforça a importância dos destinos de altitude. A Serra da Estrela é o epicentro do Turismo de neve em Portugal, com estância de esqui, aldeias históricas e gastronomia típica. O Gerês, a Serra da Cabreira e o Parque Natural da Costa Vicentina também se destacam pela beleza natural e tranquilidade. Estes territórios não só atraem visitantes pela paisagem e autenticidade, como também oferecem condições ideais para a prática de desportos de inverno, como ski e snowboard. A aposta em eventos desportivos e infraestruturas modernas tem sido determinante para posicionar a montanha como um produto turístico competitivo e sustentável.

• Divulgação de eventos culturais

Eventos culturais e festivos são motores de valorização territorial. Festivais, feiras e romarias no inverno, como o Madeiro de Penamacor, o Presépio Natural de Sabugal ou o Festival Terras sem Sombra, promovem a identidade local e atraem visitantes. O programa Portugal Events 2025-2026 apoia iniciativas que dinamizam economias locais e projetam o país internacionalmente. Estes eventos e celebrações contribuem para prolongar a estadia dos turistas e aumentar o consumo em hotelaria e restauração. Além disso, fortalecem a imagem de Portugal como destino autêntico e diversificado, mesmo fora da época alta. A integração destes eventos nos roteiros turísticos reforça a coesão territorial e cria experiências únicas que fidelizam visitantes.

Transversalmente às estratégias indicadas e para uma maior valorização do setor durante o inverno, é fundamental que ocorra investimento em acessibilidades e infraestruturas. Destacam-se alguns programas abrangidos por fundos comunitários e outros apoios, tais como:

1. Programa de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela (PRPNSE) que tem como objetivos globais proteger o ecossistema, dinamizar a economia regional e promover desenvolvimento sustentável e abrange 15 municípios da CIM Beiras e Serra da Estrela (ex.: Covilhã, Seia, Manteigas, Gouveia, Guarda);
2. A Rede Aldeias de Montanha, dinamizada pela ADIRAM – Associação de Desenvolvimento Integrado, que promove o desenvolvimento turístico sustentável da Serra da Estrela e Beira Interior, cofinanciado por fundos europeus (PROVERE e iNature) e que integra 41 aldeias;
3. O Interreg POCTEP que é um programa europeu de cooperação transfronteiriça que apoia projetos entre Portugal e Espanha para promover Turismo sustentável, valorização do património natural e cultural e desenvolvimento económico em zonas de fronteira, tais como a Rota Termal e de Bem-Estar Galiza – Norte de Portugal e a Rede de Ciclovias e Ecovias Transfronteiriças Alto Minho – Galiza. 
    

O Turismo de inverno em Portugal revela-se uma oportunidade estratégica para diversificar a oferta e reduzir a sazonalidade. A valorização de destinos de montanha, eventos culturais e festivos e experiências autênticas reforçam a atratividade do país nesta época. A integração de programas apoiados por fundos comunitários demonstra o compromisso com a sustentabilidade e a coesão territorial. Para manter esta trajetória, é essencial investir em inovação, qualificação e promoção segmentada. Desta forma, Portugal continuará a consolidar-se como um destino competitivo e diferenciado durante todo o ano.