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Longevidade ativa: oportunidades e desafios do Turismo Sénior

O envelhecimento populacional é uma das maiores transformações sociais do século XXI. Em Portugal, cerca de 1/4 da população tem mais de 65 anos e estima-se que este valor ultrapasse 33% até 2050, colocando o país entre os mais envelhecidos da Europa. O país continuará a enfrentar um acentuado envelhecimento demográfico até 2060, altura em que atingirá alguma estabilidade. Nesse período, o índice de dependência de idosos aumentará de forma acentuada e, entre 2024 e 2010, passará de 39 para 73 idosos por cada 100 pessoas em idade ativa. A população ativa deverá reduzir para cerca de 4,2 milhões, enquanto o número de idosos crescerá para 3,1 milhões. Este fenómeno, associado ao aumento da esperança média de vida, cria oportunidades e coloca desafios para o setor turístico, o qual deve adaptar-se à economia da longevidade, avaliada em cerca 369,5 mil milhões de euros na UE até 2040.

Segundo a Organização Mundial do Turismo, o segmento sénior é uma força crescente no Turismo mundial e as suas projeções apontam para 2 mil milhões de viajantes com mais de 60 anos em 2050. Em 2022, os turistas seniores representavam cerca de 25% do mercado internacional de viagens e a previsão é que esse percentual aumente para 35% até 2050, impulsionado pelo envelhecimento populacional e pelo maior poder de compra. Em Portugal, existem mais de 4,1 milhões de portugueses com mais de 55 anos, representando 38% da população e com um poder económico crescente, dos quais 69% tencionam viajar no próximo ano, sobretudo dentro do país, o que equivale a 2,3 milhões de turistas seniores.

Atendendo à escala desta realidade, é pertinente aprofundar o conhecimento sobre o perfil do turista sénior. Acima de tudo, valoriza experiências que promovem saúde, bem-estar e integração social, alinhadas com o conceito de envelhecimento ativo. Viajar fora da época alta, aproveitando preços mais baixos e destinos menos concorridos. As suas principais motivações incluem descanso, enriquecimento cultural, termalismo e experiências gastronómicas. Em Portugal, a procura interna assenta em destinos como Algarve, Norte e Termas do Centro, enquanto os visitantes estrangeiros vêm sobretudo da Europa, atraídos pelo clima ameno e preços competitivos. O turista sénior não tem um perfil homogéneo e diversos estudos identificam grupos distintos. Consideremos, a título de exemplo, a classificação apresentada pelo IPDT – Tourism Intelligence:

Empty nesters (50-60 anos)young active seniors - yas (60-70 anos)seniors (+70 anos)
Em transição para a reformaAtivos, experientes em viajarPreferem viagens mais longas e tranquilas
Valorizam saúde física e psicológicaExigem qualidade, exclusividade e experiências personalizadasA variabilidade depende da saúde e qualidade de vida
Procuram lazer tranquilo e bem-estarTêm maior poder económico e autonomiaValorizam conforto, segurança e acessibilidade

 

A procura crescente pelo Turismo sénior convida à reinvenção da hospitalidade, exigindo soluções que transcendam o alojamento tradicional e respondam às suas necessidades específicas. Surgem, assim, conceitos inovadores que unem conforto, funcionalidade e experiência: espaços pensados para promover autonomia, bem-estar e convivência, onde cada detalhe reflete cuidado e inclusão. Estes modelos não são apenas respostas às exigências do presente, mas também oportunidades para criar destinos mais humanos e sustentáveis, capazes de transformar estadias em experiências memoráveis. Ao integrar saúde, lazer e socialização, o alojamento torna-se um verdadeiro catalisador de longevidade ativa. Entre os modelos emergentes, destacamos:

  • Unidades focadas em saúde e bem-estar, como hotéis com programas de termalismo, spa e fisioterapia, que já representam um nicho em expansão em regiões como o Centro e o Norte. Estas soluções não só aumentam a atratividade do destino como contribuem para prolongar estadias e dinamizar a economia local.
  • Residências sénior em regime de curta ou média permanência, com serviços personalizados e ambientes seguros, ideais para quem procura conforto e autonomia.
  • Co-living sénior, que promove interação social e reduz custos, sendo uma tendência em destinos urbanos e turísticos.

Os modelos apresentados, pese embora o seu potencial, encerram desafios significativos, nomeadamente ao nível da acessibilidade universal (exigindo a eliminação de barreiras físicas e digitais), da oferta segmentada (com necessidade de pacotes adaptados a diferentes perfis), da integração tecnológica (garantindo apps intuitivas para reservas e informação acessível) e da formação de profissionais (capacitando-os para responder a exigências específicas). Acresce, ainda, a importância de assegurar padrões elevados de segurança e conforto, bem como estratégias de comunicação eficazes que transmitam confiança e valorizem a experiência sénior. Estes fatores serão determinantes para transformar inovação em inclusão e consolidar Portugal como destino de referência neste segmento.

Investir em infraestruturas inclusivas e em estratégias de marketing direcionadas será determinante para responder às exigências deste público. Para viabilizar estes investimentos, destaca-se a importância da articulação entre capital privado e apoios públicos, nomeadamente através dos programas do PRR e do Portugal 2030 que privilegiem projetos orientados para digitalização, sustentabilidade e acessibilidade da oferta turística. Estes incentivos contemplam desde a adaptação de infraestruturas até ao desenvolvimento de soluções tecnológicas que melhorem a experiência sénior e promovam contextos inclusivos. Entre os apoios disponíveis, destacamos o Programa Crescer com o Turismo que financia iniciativas com impacto social e territorial, incluindo inovação social, modelos de co-living, termalismo e acessibilidade, e a Certificação Turismo Acessível (ISO 21902), que valoriza os operadores empenhados em tornar Portugal um destino inclusivo, garantindo padrões elevados de acessibilidade universal. Estes mecanismos não só reforçam a competitividade do setor, como reforçam a imagem do país como uma marca internacional.

O Turismo sénior não é apenas uma tendência demográfica: é uma oportunidade determinante para Portugal afirmar-se como destino inclusivo e inovador. A longevidade ativa redefine padrões de consumo e exige respostas que integrem acessibilidade, tecnologia e experiências autênticas. Apostar em infraestruturas adaptadas, alojamentos diferenciados e programas que promovam bem-estar é investir no futuro de um setor mais sustentável e competitivo. Com o apoio dos fundos europeus e a colaboração entre entidades públicas e privadas, Portugal tem condições para transformar desafios em vantagens, posicionando-se na vanguarda do Turismo para todas as idades. Mais do que captar visitantes, trata-se de criar experiências que valorizem a dignidade e a qualidade de vida. Este é o caminho para um Turismo que não tem idade, mas sim propósito.

 Fontes:

Boletim Mensal de Estatística - Setembro de 2025 - INE; Projeções de População Residente em Portugal - INE; Programas de Envelhecimento Ativo em Portugal; Índice de envelhecimento e outros indicadores de envelhecimento | PORDATA; Pirâmide populacional do Portugal em 2025 - Pirâmides de população; Um quarto da população já tem 65 ou mais anos - JN; A economia da longevidade e o turismo — DNOTICIAS.PT; Turismo sénior impulsiona Europa, com a Madeira em destaque | Publituris; Novos destinos e menos sazonalidade. Turistas procuram mais que sol e praia em Portugal – ECO; Cohousing Sénior: um modelo de vida comunitário para o envelhecimento ativo - +Vivenza; O Alojamento Sénior em Portugal :: Transições; Turismo Sénior | Turismo para Todos - Alcura - Cuidar Hoje; Projetos PRR; Turismo de Portugal lança certificação para promover o Turismo Acessível; Programa de Apoio Crescer com o Turismo; Perfis do turista sénior na Europa; Caraterização geral - Turismo de Portugal; Seniores em Portugal: uma “Economia Prateada” que vale milhões, mas se sente invisível; O Mercado visto da Rua: o Alojamento Sénior em Portugal — LAPLACE; Turismo sénior: Uma aposta estratégica para a sazonalidade; Turismo sénior: hábitos, motivações e necessidades do turista sénior contemporâneo; Sénior, o turista do futuro: um estudo abrangente do turista sénior português; Turismo sénior - Ciência-UCP | Universidade Católica Portuguesa; Lançamento do programa de turismo sénior INATEL 55+.PT - XXI Governo - República Portuguesa; Reformado ou prestes a reformar-se? Saiba quais são os benefícios de viajar na terceira idade - Emeis

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