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SEGURANÇA ONLINE:

O futuro do teletrabalho

Susana Barros, Consultora Sénior

 

O forte incremento do teletrabalho

A COVID-19 colocou milhões de pessoas a trabalhar em casa.
 
Com a COVID-19 e a necessidade de mantermos a distância física, as empresas viram-se obrigadas a aplicar novas formas de trabalho num curtíssimo espaço de tempo. E, ainda que algumas empresas estivessem já a por em prática o teletrabalho antes desta pandemia, muitas não o praticavam e verificam agora que funciona. E a mudança para o trabalho em casa está a criar um novo normal com vários impactos económicos e sociais - nas empresas, na produtividade, no formato dos escritórios, no modelo de trabalho, na tecnologia utilizada, e também nos padrões de gastos do consumidor, e, numa perspetiva mais alargada, no próprio funcionamento das cidades.

Portugal, em junho, registou mais de 1 milhão de pessoas a exercerem a sua profissão em casa - 23,1% do total da população empregada, destacando-se: i) 70% eram empregados com o nível de escolaridade superior; ii) Os Serviços concentraram 86% deste total, destacando-se a "Educação" (25%), as "Atividades de consultoria e científicas e técnicas" (11%) e as "Atividades de Informação e Comunicação" (10%); iii) A Área Metropolitana de Lisboa foi a região em que se observou uma maior proporção de empregados que trabalharam sempre ou quase sempre em casa, 36% (42% do total)1.

Num inquérito da CIP a mil empresas portuguesas, 45% indica que no futuro pretende manter o teletrabalho de forma permanente (50% no formato de 2 a 3 dias por semana)2. No entanto, a maior parte das empresas encontra-se em fase de maturação sobre qual o modelo a implementar.

Também o governo português informou que irá acelerar os planos para o "objetivo mínimo" de manter pelo menos 25% dos 68 mil funcionários públicos que estiveram em teletrabalho neste regime depois do final da pandemia - o Programa de Estabilização Económica e Social prevê 4,4 milhões de euros para promover o teletrabalho nos trabalhadores do Estado e outros apoios à contratação em teletrabalho. Esta medida permitirá maior flexibilidade na prestação do trabalho e melhor conciliação entre a vida pessoal, familiar e profissional. Parte destes trabalhadores poderão estar em espaços de «coworking», inclusivamente localizados no interior do país, combatendo, assim, a desertificação desses territórios e promovendo a descentralização dos serviços públicos nos territórios do interior.3

Nos EUA, 31% dos americanos que trabalharam em março, trabalhou a partir de casa no mês de Abril, e estima-se que 37% dos trabalhadores dos EUA poderão continuar a trabalhar a partir de casa no futuro.4

1 INE, "Inquérito ao Emprego", 5 de agosto 2020
CIP e ISCTE, junho 2020 - "Sinais Vitais"
3 Resolução do Conselho de Ministros n.º 41/2020, 6 de junho 2020
US Bureau of Labour Statistics "Ability to work from home", junho 2020
 

O futuro do teletrabalho

Prevalência de formatos híbridos.

 

Atuais impactos e tendências futuras?

  • Mais pessoas a trabalhar remotamente comparativamente aos níveis pré pandemia, em modelos híbridos - dias presenciais no escritórios e dias em trabalho remoto - analisando a realidade particular de cada empresa e ainda a especificidade das várias funções;
  • As empresas estão a ser desafiadas a porem em prática novos modelos de gestão dos seus recursos humanos, que podem representar ganhos para ambas as partes - colaboradores e empresa. Por um lado, existirão necessidades de investimento tecnológico, mas por outro, eventuais reduções de custos com espaço físico, entre outros;
  • As empresas terão de criar equilíbrios nestes modelos híbridos que garantam a manutenção dos níveis de engagement e da cultura empresarial dos seus colaboradores, bem como o alinhamento das equipas para os objetivos definidos, sem descurar o facto de que a partilha de ideias e a promoção da criatividade é mais fomentada presencialmente. Importante será também garantir que os trabalhadores usufruem das condições, físicas e psicológicas para o exercício do trabalho remotamente, com a manutenção ou incremento da sua produtividade;
  • Com o incremento do teletrabalho verificar-se-ão alterações nos padrões de consumo, quer em termos de localização, como de canais (por ex. aumento das compras online e do take away);
  • São também expectáveis vários impactos no imobiliário, como o repensar da dimensão dos escritórios e na sua própria organização interna, como também, no crescimento dos espaços de coworking pois é natural que algumas pessoas não tenham condições para trabalhar em casa;
  • Um maior numero de pessoas em teletrabalho terá reflexos na dinâmica das cidades, contribuindo para a sua sustentabilidade.

 

Novos lockdowns gerais não são viáveis

Economia terá que "conviver" com diversas condicionantes.

 

Os seguintes fatores devem ser tidos em conta:

  • O surto de Covid-19 não desapareceu e, em alguns países europeus, observam-se sinais de novas subidas no número de casos diários (embora com menores taxas de fatalidade);
  • Apesar dos progressos recentes nos ensaios clínicos, a disponibilização e generalização de uma vacina anti-Covid-19 apenas deverá ser possível no decurso de 2021, num cenário favorável. De acordo com a OMS, em agosto existiam 6 vacinas em ensaios de Fase III, esperando-se resultados preliminares entre setembro de 2020 e abril de 2021, e resultados finais entre as segundas metades de 2021 e 2022;
  • Não existem ainda terapêuticas eficazes, seguras e aprovadas que possam ser generalizadas (embora algumas ajudem em casos particulares);
  • Não é viável (nem eficiente), do ponto de vista económico, repetir as medidas de confinamento estrito e generalizado da 1ª metade de 2020. Vários Governos europeus afirmaram já que um novo lockdown geral não é uma opção. A economia terá que funcionar com as condicionantes do Covid-19;
  • Mesmo assumindo a disponibilização de uma vacina, o pós-Covid-19 deverá ser marcado por um foco na prevenção de uma próxima epidemia/pandemia, dada uma maior percepção de que, no passado recente, o Covid-19 foi "apenas" o surto mais recente de uma sequência com intervalos curtos: SARS (2003), H5N1 (2003-04), H1N1 (2009), MERS (2012), H759 (2013), Ébola (2014) e Covid-19 (2019), entre outros de menor alcance. O risco de novas epidemias é suportado por alterações ambientais, pela maior proximidade entre animais e humanos, facilitando a transmissão de vírus, pela maior urbanização ou pelo aumento da mobilidade associado à globalização. A possibilidade de bioterrorismo deverá também ser tida em conta.

 

A caminho de uma "Economia Prudente"

Decisões guiadas por critérios mais preventivos e cautelosos.
 

A conjugação de todos estes factores deverá resultar numa "economia prudente", onde as decisões serão guiadas por critérios mais preventivos e cautelosos do que no passado. No imediato, isto materializa-se (i) na prática corrente de distanciamento social, uso de máscara e higienização; (ii) em alterações na mobilidade (mais transportes individuais, e.g. bicicleta, automóvel; fuga a transportes colectivos); (iii) alterações nos locais de trabalho e escolas (menor densidade, teletrabalho); (iv) lojas, hotéis, restaurantes, cinemas, teatros, etc. adaptados a menor densidade e maior fluidez de clientes, gerando desafios à sua rentabilidade; (v) em menos viagens e deslocações não essenciais; (vi) no prolongamento de estímulos de política e apoios sociais; e (vii) em despesas de investimento e consumo mais seletivas (e.g. maior peso de bens alimentares e bens duradouros essenciais, menor peso de bens supérfluos). 

Mesmo admitindo-se a possibilidade de excessos pontuais (e.g. viagens, concertos) com o eventual  levantamento de restrições, outras características de uma "economia prudente", mesmo no pós-Covid-19, deverão incluír (i) uma maior procura por imobiliário residencial e turístico fora das zonas mais densas; (ii) um aumento da despesa pública e privada em cuidados e prevenção na saúde; (iii) um maior investimento pessoal em hábitos saudáveis (alimentação, exercício); (iv) o aumento do peso do comércio e entretenimento online; (vi) uma maior preparação das empresas para potenciais disrupções das supply chains; (vii) o aumento da poupança preventiva e de cash buffers das empresas e famílias; (viii) maior procura por seguros; e (ix) maior investimento em automação, entre outros.

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